Secretário da CNBB fala sobre CF e renúncia do Papa

28/02/2013 23:47

 

 
O secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, Dom Leonardo Steiner, esteve em Natal, no último mês de fevereiro, para participar das comemorações dos 50 anos de criação da Campanha da Fraternidade. Na ocasião, ele concedeu entrevista ao Jornal A Ordem. Dois assuntos estiveram na pauta: Campanha da Fraternidade e renúncia do Papa Bento XVI. Sobre a CF, Dom Leonardo falou sobre a caminhada dos 50 anos e da juventude, tema deste ano. Sobre a renúncia do Papa, ele diz que foi um gesto profético.
 
A Ordem: A juventude é um tema em destaque para a Igreja Católica, especialmente no Brasil, em 2013, devido à Campanha da Fraternidade e à Jornada Mundial da Juventude. Neste contexto, como a Igreja está lidando com a relação juventude e redes sociais?
 
Dom Leonardo: Nada substitui o 'tu a tu'. O ser humano é feito para o outro, não virtualmente. Nós sempre vivemos de relações próximas e isto é vital, porque somos pessoas humanos. Podemos ter todo este mundo virtual, mas se não nos abrirmos para o contato pessoal com os jovens - e o Santo Padre também tem insistido nisto -, nós estaremos pecando. Eu percebo, nas visitas pastorais que faço, que o jovem gosta da proximidade, gosta de estar junto. Portanto, nada substitui uma relação pessoal, um 'tu a tu'. Se não tivermos uma boa relação pessoal, teremos relações virtuais que não nos realizam. Ninguém mais sensível para isto, do que os nossos jovens.
 
A Ordem: Quais os desafios da Igreja em manter a Campanha da Fraternidade que, agora, completa 50 anos?
 
Dom Leonardo: O segredo está em prepararmos bem a Campanha da Fraternidade e temos crescido neste aspecto. Já definimos, por exemplo, o tema da Campanha de 2015. Procuramos sempre escutar os bispos de todas as regiões do Brasil, através dos 17 regionais da CNBB. Então, o tema não nasce de repente. Ele é construído, coletivamente. Para o próximo ano, o tema está definido e o Texto Base já quase todo elaborado, com a ajuda de muitas pessoas. Assim, creio que a Campanha da Fraternidade terá uma incidência cada vez maior, na vida da Igreja e da sociedade.
 
A Ordem: Como o senhor vê os avanços, na Igreja, a partir da criação da Campanha da Fraternidade?
 
Dom Leonardo: O que era uma experiência muito singela, se tornou uma experiência para o Brasil inteiro. Inicialmente, eram preocupações mais voltadas para a vida da Igreja. Devagar, a CF foi abordando temas sociais, que dizem respeito às dificuldades sociais, temas que dizem respeito à pessoa, como a dignidade humano, o trabalho, o meio ambiente, a saúde e a juventude.
 
A Ordem: E sobre a renúncia do Papa Bento XVI, o que o senhor diz?
 
Dom Leonardo: Um gesto profético, quando alguém não se sente mais em condições físicas. O Papa usou uma palavra latina, que podemos traduzir como ânimo, disponibilidade, que mostra a grandeza dele em renunciar e também mostra o desejo de que a Igreja possa ser conduzida por alguém que esteja em melhores condições que ele. Isto mostra uma renovação da Igreja, porque é um pouco inusitado que depois de seiscentos anos tenhamos uma renúncia de alguém que está em plenas condições mentais. Muito consciente, ele fez este gesto, que terá repercussão para o futuro, mostrando, também, que a Igreja precisa sempre buscar novos caminhos para levar o Evangelho, de ser presença de esperança e de renovação, na realidade atual. Nesta mudança de época que vivemos hoje, precisamos de critérios novos, valores novos, que a Igreja pode nos oferecer, porque nascem do Evangelho. E uma pessoa que tem condições de peregrinar o mundo, como fez João Paulo II, pode nos ajudar muito. O bonito é que o Papa mesmo dizendo que a Igreja precisa de alguém que esteja em melhores condições do que ele. É um gesto profético, de amor à Igreja.
 
Fonte: Jornal A Ordem