Feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver

Feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver

ARQUIDIOCESE DE NATAL

PARÓQUIA DA IMACULADA CONCEIÇÃO

NOVA CRUZ - RN

 

DISCURSO DE POSSE

“Feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver”.

D. Helder Pessoa Câmara

 

“Quem sou eu e a quem estou falando? Sou um norteriograndense, filho de Laranjeiras do Abdias, município de São José de Mipibu. Sou uma criatura humana que se considera irmão na fraqueza e no pecado dos homens de todas as raças. Sou também um filho de Deus, inserido na Vida Divina pela Água do Batismo e, por isso mesmo, feito irmão na força e na santidade dos homens de todas as latitudes. Sou, finalmente, um padre da Igreja Católica que, ungido com o óleo do Santo Crisma, busca seguir as pegadas de Cristo e, como Cristo, aqui vem para servir, não para ser servido.

Meu Bom e Eterno Deus!

Santa Mãe de Deus e Santa mãe de todos de todos os homens!

Dom Jaime Vieira Rocha, nosso bispo, nosso pastor, nosso amigo!

Irmãs e irmãos novacruzenses!

A vós todos é que falo.

 

Falo para vos dizer: como eu gostaria que as portas da minha casa e do meu coração estivessem sempre abertas a todos, absolutamente a todos e a todas! Para tanto me ajude a Graça de Deus! Para tanto me ajudem as orações de todos vós, pois sem a graça de Deus e o apoio da Igreja, não poderei agir como um outro Cristo, que a todos acolhe e salva e que ninguém excluir do diálogo fraterno.

 

Estou sucedendo, seguindo determinada ordem de progressão aritmética, a um longo e expressivo rol de homens, verdadeiro catálogo da vida sacerdotal, a se confundir com a história da Paróquia. Estou me referindo aos tantos padres que nesta Paróquia serviram ao povo de Deus. Dessa listagem, sem depreciar a quem quer que seja, é de dever nominar alguns desses meus irmãos no sacerdócio ministerial: Pe. Adelino Dantas (1937) {Dom Adelino},Pe. Eugênio Sales (1943-1944) {Cardeal Sales}, Pe. Heitor Sales (1950-1951) {Arcebispo Emérito desta Arquidiocese}, Pe. Matias Patrício (1968-1990), também {Arcebispo Emérito desta Arquidiocese}, Pe. Robério Camilo (1986-1992), Pe. Normando Delgado (1992-1993), Pe. Bianor Fcº. Júnior (1992-1999), Pe. Orcenival (2000-2002), Pe. José Adelson (2002-2008), Pe. Edilson (2008 – 2011).

 

Ingresso agora, simples e pobre padre, nesta galeria de personagens que, por causa da fé souberam consumir sua vida, a exemplo do Pastor Maior Jesus Cristo, testemunhando-O diante dos homens desta terra. Estou consciente de que por aqui passaram grandes missionários, servidores de Deus e do seu povo. Homens de fé, sóbrios, de bom senso, simples, hospitaleiros, acolhedores compreensivos, promotores da paz e da justiça, humildes, portadores e exercitantes de muitas outras virtudes. Cada um deles deixou a sua contribuição evangelizadora por essas terras. Deus seja louvado por tudo isso. Quero ser como eles, principalmente no seu amor por Jesus Cristo e a Igreja, pois certamente, ninguém conseguirá trabalhar nesta seara, sem ser levado a se pronunciar, em palavras e atos, diante das exigências da Igreja do Vaticano II (cinqüenta anos deste acontecimento banhado por Pentecostes), de Medellín, de Puebla, de Santo Domingo, de Aparecida, diante dos sinais dos tempos, respondendo à interpelação de Deus: “Tu me amas?”.

 

Acompanha-me a abundância numerológica paroquial de forma seqüenciada. Com esta, já chego à nona paróquia. Elenco-as pela ordem crononológica: comecei em Araruna,  na Paraíba (N. Senhora da conceição). Lá fiquei três anos e meio. Fui estudar em Roma e, ao retornar, trabalhei em Guarabira, na Paróquia na SS. da Trindade e N. Senhora da Conceição. Naquela experiência passei menos de um ano. A pedido do Administrador diocesano fui assumir a paróquia da Sagrada família e Nossa Senhora da Conceição, em Belém; por lá permaneci quase um ano.   A pedido do Sr. Bispo D. Muniz e do Conselho presbiteral, tive que deixar Belém (terra do pão) e assumir Alagoa Grande (terra do musicista Jakcson do pandeiro e da sindicalista Margarida Maria Alves), para começar uma nova experiência pastoral na paróquia de N. Senhora da Boa Viagem, em Alagoa Grande. De Alagoa Grande, D. Jaime me transferiu para a Paróquia de N. Senhora do Livramento, na cidade de Bananeiras. De Bananeiras, eu pedi ao Sr. Bispo Dom Lucena, para fazer uma nova experiência em João Pessoa. De João Pessoa, retornei à casa paterna, a esta Arquidiocese, abraçado pelo meu padrinho Dom Matias. Aqui é válido salientar, que a porta de entrada foi o Alto Juruá, que olha para a Praia do Meio e ergue a vista para o Morro Mãe Luíza, na Paróquia de N. Senhora de Lourdes e Nossa Senhora da Conceição, onde viveu e morreu Pe. João Maria, o Santo de Natal. Dessa vez, a experiência foi em uma equipe, tendo como pároco, o amigo de turma e estimado irmão, Pe. Robério, com a companhia do querido Diácono, hoje Padre Luís Paulo. O bom tirocínio durou apenas um ano. Daquela circunscrição canônica, Sua Excelência, o senhor Arcebispo D. Matias me enviou a curar as almas da Paróquia de N. Senhora do Livramento, em Taipu e Poço Branco.    

 

Toda essa experiência ministerial, ditada pelos anos de sacerdócio, mais se enriquecerá sob a guia do Espírito Santo e o seguimento das pegadas de Jesus, na medida que venha acolher o testemunho dos outros semeadores, homens de Deus que passaram por aqui. Foram e são muitos. Cada um deixando grandiosas contribuições, proporcionando com seu pastoreio a presença de uma Igreja dinâmica, graças a uma plêiade de servidores que souberam interagir a fé com a vida. Vejo-os, inclusive, na linha da coerência com o que dizem os nossos pastores, os bispos, no Documento extraído da Conferência de Aparecida (n. 292): “Como características do discípulo, destacamos: homens fiéis a Cristo, espírito de oração, amantes da Palavra, fiéis administradores dos sacramentos, sobretudo, afinados com a Eucaristia, voltados para a comunidade eclesial e social, solidários no amor à vida de todos, de modo especial aos pobres e carentes, fervorosos missionários”.

 

 Estou encontrando uma grande equipe: o Pe. Janilson, nosso vigário paroquial; o diácono Jeová; as Irmãs das Congregações do Amor Divino e Franciscanas e os leigos. Uma dedicada equipe que muito me auxiliará, estou seguro. Com uma equipe bem orquestrada tudo vai dá certo. A relação entre membros da equipe deve ser sempre a mesma: à frente deve estar sempre o evangelizador e, por trás deste, o administrador. Mas Atenção! Ajudem-me, para que eu seja sempre um autêntico missionário, disposto a lutar em favor da dignidade humana, seja no espaço eclesial, seja no espaço social e político, promovendo a justiça e a paz, verdade e vida. 

 

Não chego com um plano estabelecido. Não. Deus sabe que eu não o trago. Graças a Deus, trago sim, comigo, um pouco de experiências acumuladas, com disponibilidade para trabalhar. Trago o desejo de agir na dinâmica da comunhão e da participação, segundo o dizer dos Senhores bispos, em Puebla, (nn. 211-215) isto é, em conjunto. Espero para isso contar com as bênçãos do Nosso Senhor e da Imaculada Conceição e as disponibilidades do irmão “povo de Deus”.

 

Venho, mas venho mesmo, Deus o sabe, banhado pela esperança, impulsionado pela coragem de ser fiel aos apelos da Igreja e do nosso pastor D. Jaime, que, iluminado certamente pelas luzes do Espírito, me mandou para o meio deste povo, que, não tenho dúvidas, é um povo sequioso de Deus e de sua Palavra. Por isso mesmo, um povo aberto à ação evangelizadora, ao mistério catequético, ao agir missionário e ao acolhimento fraterno.

 

Cito agora o nosso querido e saudoso profeta D. Helder Câmara: “A esperança é ver na aventura do amor, jogar nos homens e mulheres, pular no escuro, confiando em Deus. É isso mesmo. E mais do que isso. Nunca se deve temer a utopia. Agrada-me dizer e repetir: quando se sonha só, é um simples sonho, quando muitos sonham o mesmo sonho, é já realidade. A utopia partilhada é a mola da história”.

 

                Irmãs e irmãos aqui presentes, vos confesso de que fiquei surpreso com a decisão por Dom Jaime de me nomear para esta tão renomada Paróquia. Enquanto conversávamos, assim me dizia o Arcebispo: Assis, pensando na Paróquia de Nova Cruz e no bem da Igreja, pensamos em você. Contamos com você. Por isso, quero saber de você o que você tem a nos dizer. Não hesitei em dizer sim. Senti-me estimulado pela obediência. Tendo escutado a voz do Bispo, pensei comigo mesmo: É uma questão de obediência na fé. A obediência só tem sentido a partir da fé. Toda obediência está ligada ao discernimento, visto que, obedecer é abrir mãos dos planos pessoais em vista dos planos comunitários, por tanto, é preciso ver e escutar na voz do Bispo a vontade de Deus (cf. cân. 601).  

 

Como já disse antes, não trago planos preconcebidos. Poderia, talvez, elencar algumas propostas e sugestões. Não me atrevo a fazê-lo. Parece ser melhor contemplar primeiro o que já existe e aprender com o que já se faz por aqui. Até porque, dar continuidade ao que já existe é seguir prestando serviço ao nosso povo, hoje passando momentos de aflição e perplexidade. Será demais sonhar assim, penso que não. Sonhos sonhados em mutirão se tornarão realidade em contato com os grupos, com as comunidades e as diversas expressões da sociedade.

 

Devem existir muitas iniciativas de visibilidade ou anônimas que manifestam a influência dos padres, das irmãs e de demais agentes, os animadores de comunidades, sejam os leigos de atuação limitada, na dinâmica desta Igreja paroquial. Nunca é demais querermos construir um clima de esperança, de exigências evangélicas, despertando-o, antes de tudo, em nós mesmos; depois, naqueles que ainda se mantêm de braços encruzados, para que juntos decidamos ampliar o nosso nível de doação. Não tenhamos dúvidas, se as sementes forem plantadas, prosperarão e darão frutos. “Uma dá cem, outra sessenta e outra trinta por um” (Mt 13,23). 

 

Trata-se, pois, de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho, arraigada em nossa história, a partir de um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo. Um encontro que desperte discípulos e missionários.

 

A todos, sim, nos toca recomeçar a partir de Cristo, reconhecendo que “não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” (DAp, 13). Quanto a mim, é com os olhos iluminados por Cristo, que devo e quero contemplar cada um habitante de Nova Cruz.

 

Estou diante, pois, de grandes desafios. Enfrentá-los-ei com coragem, pois, como São Paulo, tudo posso em Jesus Cristo que me fortalece e encoraja. O Senhor nos diz: “Não tenham medo” (Mt 28,5). Os sinais da vitória de Cristo ressuscitado nos estimulam enquanto suplicamos a graça da conversão e mantemos viva a esperança que não engana. O que nos define não são as circunstâncias dramáticas da vida, nem os desafios da sociedade ou as tarefas que devemos empreender, mas acima de tudo o amor recebido do Pai graças a Jesus Cristo pela unção do Espírito Santo. Aqui e agora está um desafio fundamental que devo afrontar nesta nova experiência convosco, novacruzenses: Neste momento quero fazer minhas as palavras de S. Santidade Bento XVI, no início de seu Pontificado, chamando atenção para o seu predecessor, o Servo de Deus, João Paulo II, e proclamá-las para toda esta “porção do povo de Deus” que está aqui em Nova Cruz: Não temam! Abram, abram de par em par as portas a Cristo!... Quem deixa Cristo entrar não perde nada, nada – absolutamente nada – do que faz a vida livre, bela e grande. Não! Só com esta amizade abrem-se as portas da vida.” (DAp, 15).

Cristo basta! Basta uma porta, Cristo, a razão do nosso viver! E a Ele peço humildemente:

Ajuda-me, ó Deus a ser:

- um pastor discreto e respeito para com todos, sobretudo com os diferentes;

- um pastor corajoso, para ser fiel aos apelos do Espírito, aos apelos da Igreja, no meio do povo que espelha, de maneiras tão variadas, o rosto do Cristo sofredor.

- um pastor ser servidor e despojado, que provoque, em nossos dias, a possibilidade de ajudar a reformar a Igreja, e fazê-la mais servidora e despojada, algo semelhante ao que fez São Francisco de Assis no seu tempo.

- um pastor firme, consciente e livre no conhecimento público e na relação com os políticos e pessoas influentes na vida desta região. Que eu possa garantir a presença pública da Igreja na sociedade, nas várias esferas da atividade humana: econômica, política e social. Porque o que toca na vida, toca na fé. As legítimas causas humanas coincidem com as causas do Evangelho. Mas longe de mim de querer ter a pretensão de entrar nessas questões como simples técnico ou político profissional. Devo fazê-lo sob a ótica e a perspectiva do pastor.

- um pastor que vivencie o lema de vida que um dia escolhi: alegria, simplicidade, misericórdia! Que eu sempre ponha em prática este lema, na relação com os meus paroquianos. Sobre a misericórdia – caridade, não esqueço as palavras do Bom Papa João XXIII dirigida aos bispos de todo o mundo: “não saiam da caridade para vocês não saírem de Deus”.

 

Para toda essa experiência que me aguarda possa ser coroada de êxito, valho-me daquilo que costuma dizer Dom Matias, quando se reporta aos quatro momentos primordiais da vida do padre: a Eucaristia, o Breviário e o Terço e o contato coma vida do povo. E digo mais: valho-me das orações de mamãe e de papai, das amigas e amigos, dos ex-paroquianos que me servem de retaguarda, sustento e apoio.

 

                Oh!, Espírito Santo, guia-nos sem pedir licença. Assume a direção. Comanda!

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     

Concluo minha mensagem confessando esta firme esperança no Senhor. É o Senhor quem me conduz e nada me faltará.

Que a querida Mãe de Deus e de toda a Igreja, a Senhora da Conceição, nos acompanhe e os meus paroquianos, com seus cuidados maternais e a sua intercessão, para que eles e eu façamos tudo o que é vontade do seu querido Filho e nosso irmão na fé. Assim seja!

 

Pe. Francisco de Assis Inácio

Pároco